
"Quando a mente não para: os desafios (e os caminhos) do TDAH na vida adulta"
Você começa uma tarefa e, em minutos, está fazendo outra. Esquece compromissos importantes. Perde objetos com frequência. É difícil manter o foco em uma conversa ou terminar aquilo que começou. A sensação de estar sempre atrasado, devendo algo ou sendo "menos produtivo" que os outros é constante. Se você se identificou com essas situações, talvez esteja convivendo com algo mais do que apenas distração: pode ser Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade – o TDAH.
O que é o TDAH?
O TDAH é um transtorno neurobiológico, crônico e de origem genética, que se caracteriza por desatenção, impulsividade e/ou hiperatividade. Embora seja mais conhecido entre crianças, o TDAH pode persistir ou até mesmo ser diagnosticado apenas na vida adulta. Isso porque os sintomas se manifestam de formas diferentes ao longo da vida e, muitas vezes, passam despercebidos ou são confundidos com "preguiça", "desorganização" ou "desinteresse".
Como o TDAH afeta o dia a dia?
As pessoas com TDAH enfrentam desafios desde as tarefas mais simples – como organizar uma gaveta, responder a e-mails ou manter a atenção em uma reunião – até responsabilidades complexas, como administrar o tempo, lidar com prazos ou manter um relacionamento saudável.
O cotidiano é frequentemente marcado por esquecimentos, dificuldades de planejamento, procrastinação, impulsividade (inclusive nas falas e decisões), e sensação constante de frustração. Muitos adultos com TDAH convivem com baixa autoestima, sentimento de inadequação e sobrecarga emocional, porque vivem tentando se ajustar a um mundo que parece não ter sido feito para seu ritmo.
Nos relacionamentos e no trabalho
No ambiente profissional, o TDAH pode levar a dificuldades para manter o foco, cumprir prazos ou lidar com tarefas repetitivas e administrativas. Isso pode prejudicar o desempenho, a organização e até as relações interpessoais.
Nos relacionamentos, a impulsividade e a dificuldade em escutar com atenção podem gerar ruídos na comunicação. Além disso, o parceiro ou parceira pode interpretar a desatenção como desinteresse, o que gera conflitos e mágoas. A constante autocrítica do próprio indivíduo com TDAH também pode afetar a forma como se posiciona diante do outro, muitas vezes se sentindo em dívida ou inferior.
Diagnóstico e tratamento: acolher para tratar
O diagnóstico do TDAH é clínico, feito por profissionais da saúde mental, e leva em consideração uma análise cuidadosa da história de vida, padrões comportamentais e impacto dos sintomas no funcionamento da pessoa.
O tratamento mais eficaz costuma ser combinado, ou seja: medicação prescrita por um psiquiatra (quando indicada) e psicoterapia com um psicólogo capacitado para trabalhar com questões de atenção, organização e regulação emocional.
Como a psicoterapia pode ajudar?
A psicoterapia é um recurso fundamental para quem convive com o TDAH. Durante o processo terapêutico, é possível:
- Entender o funcionamento do próprio cérebro e acolher as dificuldades sem julgamentos;
- Desenvolver estratégias práticas para melhorar o foco, a organização, o planejamento e a gestão do tempo;
- Trabalhar a autoestima, a culpa e a frustração que muitas vezes acompanham o transtorno;
- Melhorar a comunicação nos relacionamentos interpessoais;
- Aprender a lidar com emoções intensas e a impulsividade.
Além disso, a terapia é um espaço seguro onde o paciente encontra escuta, orientação e ferramentas personalizadas para seu dia a dia.
TDAH tem tratamento. E o alívio vem com o cuidado certo.
Ter TDAH não é falha de caráter, nem falta de esforço. É uma condição que exige compreensão, apoio e tratamento especializado. Com acompanhamento adequado, é possível transformar a relação com o tempo, com as tarefas e, principalmente, consigo mesmo.
Se você se identificou com esse texto ou conhece alguém que possa estar enfrentando esses desafios, procure um profissional da saúde mental. O primeiro passo pode mudar todo o caminho.
Autora: Psicóloga Alyne Luz
CRP: 07/21668
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